Equipes bem organizadas têm responsabilidades bem definidas, sem ultrapassar os limites de carga cognitiva das pessoas, conferindo autonomia para fazer o trabalho e gerar valor percebido.
Neste capítulo, abordamos critérios efetivos para organizar equipes de engenharia, estruturando organizações de engenharia para maximizar resultados.
Equipes bem planejadas “entregam” mais
SRP e organização dos times
O princípio da responsabilidade única, geralmente associado ao design de sistemas, que indica que cada componente tenha uma, e somente uma, responsabilidade, é aplicável, também, a organização das equipes.
A ideia é que cada equipe se comprometa com um, e apenas um, tipo de entrega.
O primeiro tipo de entregas associado a equipes de engenharia é o atendimento, direto, dos objetivos do negócio. Ou seja, a capacidade de converter “requisitos funcionais” em software, geralmente, pelo desenvolvimento de features que os usuários percebem e interagem. Externamente, é o desempenho de equipes que endereçam esse tipo de expectativas que irá dar a “fama” da organização de engenharia.
O mito dos requisitos
Costuma-se dizer que as demandas do “negócio” são “requisitos”. Entretanto, o que o negócio tem, geralmente, são “anseios” e hipóteses de como atendê-los.
O fato é que essa “presunção” de que o que se tem são requisitos atrapalha mais do que ajuda. Assume-se uma certeza que, na maioria dos casos, não existe.
O segundo tipo de entregas associado a equipes de engenharia é o desenvolvimento de partes mais complicadas, geralmente, basilares para as funcionalidades que o usuário deseja. Em uma plataforma como a Uber, por exemplo, a definição das rotas das viagens é algo importante, sobretudo porque tem impacto direto nos custos, por outro lado, não é uma parte do sistema que recebe requisições frequentes por parte dos usuários da plataforma.
 | Não raro, essas partes complexas entregam os “diferenciais competitivos” para o negócio. |
O terceiro tipo de entregas associado a equipes de engenharia está no suporte a “requisitos não-funcionais”, como segurança e observabilidade. A ideia é fornecer recursos que garantam para as equipes que atendem os objetivos de negócio artefatos técnicos suficientes para focar no negócio e não em demandas técnicas. Esse tipo de de entrega geralmente é atendido por equipes dedicadas em organizações maiores, com centenas ou milhares de desenvolvedores.
Finalmente, o quarto tipo de entrega associado a equipes de engenharia é apoio consultivo para práticas e padrões. A ideia é garantir a adoção continuada das melhores práticas na organização sem desviar o foco, principalmente das equipes que estão “na linha de frente”. São comuns equipes dedicadas a facilitar atividades relacionadas a agilidade, operações e arquitetura de software.
Quatro tipos de equipes
Como já foi dito, uma equipe, para ser mais eficiente, deverá atender apenas um dos quatro tipos de entrega relacionados à engenharia de software.
 | Team Topologies: Organizing Business and Technology Teams for Fast Flow A terminologia que adotamos aqui foi sugerida, primeiro, nesse excelente livro. |
O primeiro tipo de equipe, identificável como stream-aligned teams, é aquele que comprometido de atender as demandas do negócio. Em organizações saudáveis, equipes desse tipo são as mais numerosas. Aliás, todos os outros tipos de equipes devem ter, como objetivo primário, reduzir a carga cognitiva para as equipes stream-aligned. O foco é minimizar o lead-time, custos e riscos.
O segundo tipo de equipe, identificável como complicated-subsystem teams, cumpre a expectativa de desenvolver as partes mais complicadas dos sistemas. Geralmente, são formados por especialistas técnicos, que, através da equalização das unidades de distribuição e de reuso, diminuem a fricção para os equipes stream-aligned sem intervenção direta.
Deployment/Reuse Equivalence Principle
Código não deveria ser reutilizado copiando-o de uma trecho e colando-o em outra. Afinal, se o autor original corrigir algum bug no código original ou adapta-lo para atender alguma nova demanda, há riscos de inconsistência. Seria necessário, sempre, descobrir o que mudou, para, então, alterar as cópias.
A melhor alternativa é fazer com que código que deve ser reutilizado através de biblioteca ou blocos de expansão.
O terceiro tipo de equipe, identificável como platform teams, é aquele que atende os requisitos não-funcionais e aspectos operacionais, garantindo a autonomia para os equipes stream-aligned façam entregas ponta-a-ponta.
Finalmente, o quarto tipo de equipe, identificável como enablers, é aquele que cumpre a expectativa de dar consultoria em padrões e práticas para os demais. Geralmente, essas equipes operam em forma de “colegiado”, infiltrados no dia-a-dia das outras equipes, de forma temporária.
Modos de interação
Havendo diversas equipes em uma organização, é fundamental buscar maneiras eficientes para que as interações aconteçam de maneira assertiva. Generalizando, temos entregas as-a-service, por colaboração ou facilitação.
Equipes platform geralmente atendem equipes stream-aligned e complex-subsystem fornecendo facilidades em modalidade as-a-service, ou seja, com ênfase em reuso e baixa customização, tendo trabalho facilitado – ou seja, com orientação direta – recebida de times enablers.
Equipes complicated-subsystem atendem times stream-aligned fornecendo facilidades em modalidade as-a-service ou através de colaboração para o desenvolvimento de soluções customizadas. Essas equipes também têm trabalho facilitado por times enablers e consomem serviços de times platform.
Equipes enablers atendem todas as demais equipes da organização através de facilitação. Eventualmente, colaboram para formação de capabilities muito específicas. Raramente demandam das demais equipes.
Equipes stream-aligned, idealmente, não atendem outras equipes de engenharia. Em contrapartida, são suportadas por todas as demais equipes.
Métricas! Métricas!
A organização das equipes tem impacto direto nas quatro métricas fundamentais: development lead-time, frequência de deploy, MTTR e taxa de falhas.
Para pensar…
Desenvolver software é muito mais sobre achar formas efetivas para pessoas trabalharem juntas, atingindo o máximo de potencial, do que sobre tecnologias.
